Não entende o simples fato
De que ir atrás de um gato
É ausência de noção
Mas eu soube que o tal rato
Aquele sempre atrás do gato
Pensa nisso como um ato
De perfeita intuição
Mas pergunto pro tal rato
Se ele é louco ou fez teatro
Se é capaz de ver num gato
Algum viés de compaixão
E ele me responde brando
Sem cautela, revelando
Como se eu fosse o cego
E ele o tato, me guiando
O gato preto é majestoso
É terrível, poderoso
Um gigante impiedoso
Seu desejo é devorar
É veloz e inteligente
Tão esperto quanto a gente
É capaz de ser valente
Mesmo estando a perigar
Mas o gato tem fraqueza
Disso pode ter certeza
Pois quando ele sobe à mesa
Vem um homem lhe tirar
E se o homem é tão mais forte
Esse gato então tem sorte
Por alguém de grande porte
Não querer lhe devorar
É essa, então, a teoria
Que o tal rato repetia
Na qual diz que a hierarquia
Serve mesmo é pra enganar
Foi por tal que o grande gato,
Quase aluno de internato,
Descobriu que o ser mais forte
Nunca mata o ser mais fraco
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O rato, de Caio Marazzo.
