terça-feira, 28 de abril de 2009

Cirurgia.

Vou poupar-lhes de pouca coisa:



Hospital São Lourenço - Bangu. Pré-operatório : Sábado.

Após uma longa e difícil negociação com as secretárias, pouco profissionais, no dia anterior, consegui finalmente reservar meu lugarejo naquele hospital. A internação foi marcada para as 9h da manhã de sábado. Precavido, sai de casa com meus pais às 6h30 da manhã de carro, com tudo pronto e arrumado para a internação. Algumas peças de roupa, produtos para higiene básica, alguns maços de cigarro e garrafas de cerveja.
Cheguei no hospital às 7h, com a esperança de, por lá estar em tal horário, conseguir um atendimento mais breve e com menos complicação. Fui ao balcão, entreguei alguns papéis, preenchi outros e aguardei, das 7h da manhã até as 9h em uns assentos duros, e com um ar condicionado beirando 0°C . Senti pena de meus pais.

Às 9h fui chamado por uma médica simpática a subir para o meu quarto. Pensei ai que tudo estava dando certo, não havia mais como dar algum problema de horários mal marcados ou qualquer outra enrolação daquelas secretárias mal pagas.Tendo retirado dos ombros uma preocupação, era hora de dar vez a outra. E agora oq virá ? - pensei.
Meu quarto era bacana, tinha uma pequena TV suspensa, uma ampla janela que tava vista a uma linha de trens barulhentos, um frigobar, uma cama para o paciente, um sofá e um banheiro. Tudo bem simples, mas de certo encantador. Eu, em minha mente, pensava, antes disso, que ficaria largado no corredor a mercê do descaso, como tantos pacientes que aparecem no RJ-TV. Viva então ao dinheiro de papai.

Eu estava em jejum desde as 21h de sexta-feira. Durante o tempo que passamos no quarto pensei que iria morrer de fome, pois só fui chamado para a cirurgia 12hrs. Enquanto isso, enfermeiras entravam no meu quarto e me pediam informações. Uma delas viu meu pai sentado e se dirigiu a ele como sendo o paciente. Garotos tbm tem problemas de saúde- pensei.

12hrs. A enfermeira volta e dessa vez parece ser definitivo. Abre a porta e deixa do lado de fora uma maca, me joga uma roupa azul dobrada e pede para que eu me troque. Tudo assim, repentino. Fui ao banheiro, tirei minhas roupas sem pensar em nada e coloquei aquele clássico vestidinho de bunda de fora, digno de hospitais. Deixei pra trás óculos, chinelos, meus pais, minha vergonha e meus medos. Agora era eu, a enfermeira e o vestidinho azul.


Hospital São Lourenço - Bangu. A operação : Sábado.

Deitei na maca, ainda meio sem jeito, alvo do olhar de meus pais, que ia se afastando como uma despedida silênciosa. Fui sendo carregado pelos corredores do hospital, por uma mulher que parecia ter uma força descomunal. Ela empurrava aquela maca pesada com 70 kilos adicionais. Quase lhe ofereci ajuda, mas estava tenso nesse momento. O que senti foi algo muito diferente de tudo. Via reflexos luminosos no teto, deveriam ser das luzes fortes do corredor. Ouvia vozes que falavam comigo. Deveriam ser mais médicas simpáticas que passavam por ali. Tudo era tão fora de foco e inacreditável. Pensei em como aquela situação era normal naquele lugar e eu me sentindo o último biscoito do pote.
Fui deixado, depois de muito empurrado, numa sala ainda mais clara e fria. Minha miopia me irritava muito, pois não conseguia de forma alguma definir rostos, mas sabia quem eles eram. Eram médicos, sim, eu podia destinguir a cor verde de seus uniformes, as luvas, as toucas e toda aquela aparelhagem. Aguardei em silêncio e logo fui comprimentado. Era o meu médico, doutor Rômulo, aquele com o qual me consultara tantas vezes anteriormente. Estou em boas mãos-pensei.
Fui vítima de avalições, comentários e exposto de forma quase bruta. Havia uma mulher entre eles, podia ouvir claramente a sua voz. Por um momento, pensei em cobrir-me às pressas. Mas lembrei-me novamente, que para eles a situação era das mais comuns.
Fui colocado em uma outra maca e após uma breve conversa com o anestesista, fui picado por uma agulha. Aquele papo furado deveria ser mesmo uma maneira de me distrair. Deu certo. Quando me dei conta, ele estava injetando em meu braço um líquido rosa. Após, pediu para que eu me virasse de lado e esperasse um pouco. Pensei em nada... Apaguei.


Hospital São Lourenço - Bangu. Pós-operatório : Sábado.

Acordei já no quarto. Desse momento, lembro-me pouco. Vi meus pais e me retornaram à boa visão. Olhei ao redor e estavam todos ligeiramente tranquilos. A cirurgia devia ter sido um sucesso, como dizem. Calhei então de preocupar-me comigo.
Haviam duas sondas ligadas ao meu braço esquerdo, alimentavam-me com soros e glicose. No meu p... havia uma sonda que levava a urina para um lugar qualquer. Confesso que isso me choca até hoje. Do lado direito da virilha, um corte. Profundo e dolorido, coberto de curativos. Minhas pernas pesavam 500kg cada. Não as senti e isso foi assustador. Meu quadro geral era o de um paciente que acabara de ser operado, mas pra mim aquilo tudo era novidade e apesar da consciência não me faltar, dei asas ao desespero e ao medo. Chorei. Fui alvo dos afagos de minha mãe, ela sempre prestativa até o fim.
A noite seguiu infernal. Não conseguia e nem podia me mexer. A cama era a mais desconfortável do mundo. Passei a noite em claro e cheio de dor. Era visitado constantemente por enfermeiras que vinham verificar meu soro. PLEASE, GIVE ME SOME VICODIN !!


Hospital São Lourenço - Bangu. Pós-operatório : Domingo.

"Acordei" menos dolorido, mas tão desconfortável quanto. Levantar, sentar ou qualquer outro movimento corriqueiro, era sinônimo de dor aguda.
Agora as enfermeiras pareciam ter entrado em uma seita secreta, cujo objetivo era me causar desconfiança. Entravam em meu quarto e me faziam a mesma pergunta:

- já tentou andar?

-Claro que não sua vagabunda filha da puta !! - pensei.

Influenciado, decidi que já era hora de tentar me mover. Retiraram-me a sonda urinária e pude levantar da cama. (dor)
Dai em diante a situação foi melhorando, fui liberado a comer e incentivado a andar pelo quarto. Tomei finalmente um banho e me vi só, já que meus pais haviam ido embora mais cedo, com a promessa de voltar na segunda-feira.
Estava entediado, mas curado o bastante, para tocar violão e mudar o canal da tv. Sim, eu levei o violão pra lá.


Hospital São Lourenço - Bangu. Larissa : Domingo.

Pouco antes do grande clássico de domingo Botafogo X Emerson, fui visitado por uma enfermeira chamada Larissa. Loira, alta e boas feições, era, sem dúvida, uma benção naquele lugar. Achei relevante postar nosso diálogo aqui:

- Oi.
- Oi...
- Vim trocar seu curativo.
- Tá.

(pausa)

- Eu tava olhando a sua ficha, vc mora na André Rocha né?
- Moro, pq?
- Eu moro ali perto.
- Essa rua é grande. Eu moro perto da Coca-Cola.
- Nossa...
- Que foi?
- Eu moro mais longe, quase no largo da Taquara.
- Mas eu to sempre por lá. É capaz de gente se encontrar.
- Ah é sim. =)


Se eu tivesse encontrado ela na rua ou no ônibus, isso não seria nada de mais. Mas quando a guria manda uma dessas com a mão no seu p... as coisas adquirem um contexto um pouco diferente.


Hospital São Lourenço - Bangu. Liberação : Segunda-feira.

Após uma noite mais tranquila, mas de idas constantes ao banheiro carregando consigo os soros, pude finalmente acordar no dia marcado para minha liberação. Eram 6hrs da manhã, o dia estava raiando e eu animado e ansioso para ir embora. Meus pais chegaram às 7hrs e depois de alguma burocracia desci para a liberdade. Entrei no carro e rumamos para a civilização. Confesso que as ruas não são as mais bem asfaltadas no trajeto, oq fizeram o carro parecer a montanha-russa do diabo. Mas os meios justificam os fins. Manquei até a porta de casa e pude enfim voltar a ser um ser-humano.

Casa de Marazzo - Taquara . Recuperação : Segunda-feira.

Não havia ainda comprado os remédios que me foram receitados. Passei todo o dia com muita dor e contando histórias no msn. À noite, já com os remédios, senti-me outro. Podia andar e quase correr, subir escadas e tudo mais.

Omeprotec
Biprofenid cetoprofeno
Cloridrato de ciprofloxacino
Veet

Meus melhores amigos.

Casa de Marazzo - Taquara . Recuperação : Terça- feira.

Estou bem. =)

4 comentários:

Leo disse...

Eu ja tomei o Biprofenid!

Gente boa...


Aí! faltaram informaçães! Que tipo de sonda urinaria vc usou??!

Aquela que é super dolorida pra tirar??


E a cirurgia?! Qual o nome?!

Acho que essa é a que eu te falei, que é mais sinistra mesmo... Ja tem uma que é só com dois pequenos furos na virilia, a recuperação é bem mais rapida... só que essa deve ser mais segura né?!

Putz! muito foda essa vida em hospitais né?!


Bjus

bia commerford disse...

Nossa.... tem como fazer um filme... Sinistro... dores, angústias, solidão, medo.. que triste... o.o
Mas que bom que correu tudo bem!
E eu tenho certeza que depois da recuperação vc irá encontrar a Larissa num barzinho da vida.. xD

Descanso e juízo, Caio! =)

=*

Beatrix Kiddo! disse...

Leo e Caio conversando, me senti vendo um encontro hiponcondríaco.

Caraaaaaaa, morri de rir lendo essa porra. Vc tem o dom, sabe?

Ainda bem que vc tá bem, vc não deixa nenhum numero pra gente ligar, se tivesse morrido, nem iríamos saber. Isso me deixou puta.

Leo disse...

UIIII